Caro(a) leitor(a), em nossa busca de falar de espiritualidade e oração, mas acima de tudo, de rezar e viver a nossa oração, gostaria de relembrar uma frase de João Paulo II: “É muito importante que tudo o que com a ajuda de Deus nos propusermos esteja profundamente radicado na contemplação e na oração” (NMI, n. 15).
A partir desta frase talvez surja a pergunta: o que é contemplação?
Um dia li um artigo de Lílian Carvalho sobre o assunto:
“Contemplar é ver com o coração, é integrar-se na realidade que nos cerca, é comungar com o universo. Olhar, escutar, saborear e sentir internamente aquilo que se deseja compreender. Deixar-se afetar, compreender com afeto. Essa é uma das formas de entrarmos em contato com a sabedoria divina. Ao contemplar minha mãe, vi uma mulher que viveu dificuldades na vida que jamais poderei imaginar. Casou-se aos quinze anos. Depois vieram os dez filhos para cuidar, saciar a fome, ensinar a falar, a andar, a amarrar os sapatos, curar as feridas, enxugar o pranto, atender tantos apelos... Ainda, assim, ela arrumava tempo para fazer a comida que meu pai gostava, que os filhos gostavam... Sua missão, sua pastoral: nossa família! Uma vida inteira dedicada a Deus, sempre declarando: tudo que fiz e faço é por amor a Deus.” (Jornal de Opinião, n. 722, 2003. “O Olhar que Vem do Coração”).
E no Catecismo da Igreja Católica lemos assim:
“A contemplação é olhar de fé fito em Jesus. Eu olho para ele e Ele olha para mim", dizia, no tempo de seu santo pároco, o camponês de Ars em oração diante do Tabernáculo. Essa atenção a Ele é renúncia ao ‘eu’. Seu olhar purifica o coração. A luz do olhar de Jesus ilumina os olhos de nosso coração; ensina-nos a ver tudo na luz de sua verdade e de sua compaixão por todos os homens. A contemplação considera também os mistérios da vida de Cristo, proporcionando-nos "o conhecimento íntimo do Senhor", para mais O amar e seguir” (CIC 2715).
Também podemos citar aqui outro texto de D. Armand Veilleux, OCSO:
“A contemplação não é uma atividade, mas sim uma atitude. É uma relação de amor com Deus que não pode ser dissociada não somente daquilo que somos, mas também daquilo que fazemos. Se nos tornamos gradualmente verdadeiros contemplativos, não somente nossos momentos de oração silenciosa se tornarão momentos de contemplação, assim como nossa participação no Ofício Divino, mas nossas horas de trabalho se tornarão também momentos de contemplação. Não porque nós nos esforçaremos de recitar orações durante o trabalho, mas simplesmente porque estaremos unidos a Deus através do nosso próprio trabalho” (Palavras ditas à comunidade do Mosteiro de Notre Dame de Scourmont em Forges, Bélgica, 2/5/1999).
O mesmo monge falou na Abadia de Gethsemani, no dia 25 de julho de 1996, que “a contemplação não é um ato isolado, algo como uma experiência de pico atingida só em ocasiões esparsas. Trata-se de um modo de vida”.
A partir dos textos podemos concluir que contemplação é:
Ver com o coração;
Um olhar de fé;
Uma atitude de vida;
Relação de amor com Deus;
Um modo de vida.
Santo Isidoro dizia que “a vida contemplativa é aquela que é desimpedida de todo negócio humano, e se delicia somente no amor de Deus”. Podemos afirmar, então, que contemplar é “estar em Deus”; é profunda “união com Deus”.
Se formos mais contemplativos, poderemos ajudar muitas pessoas a descobrir a profundidade da vida humana que encontra o seu sentido em Deus.