09 de Stembro de 2025

"ESPIRITUALIDADE ENCARNADA"

É sempre uma alegria poder estar com você, querido leitor, através deste meio de formação e informação. Gostaria de agradecer a você que, na sua casa ou nos grupos e comunidades da nossa diocese, tem sido um grande evangelizador e servidor. Neste mês proponho refletir com você sobre a fonte de toda a vivência cristã-comunitária: a ESPIRITUALIDADE.

Tantas vezes somos tentados a compreender a espiritualidade como algo totalmente além da realidade, fora do dia a dia. Como se fosse um voltar-se para Deus, para o transcendente, sem que isso toque a realidade.

É uma compreensão errônea da espiritualidade aquela que faz as pessoas dizerem: “Como é bom rezar, celebrar, estar na Igreja. Gostaria de continuar esta experiência, mas agora preciso ir enfrentar aquela realidade complicada da minha casa!”. Parece assim que existe uma distância absoluta entre a “espiritualidade” (a oração) e a vida concreta.

Espiritualidade, pelo contrário, é vida no Espírito. Não é só oração, celebração, momentos de interiorização. É também prática, serviço concreto, atitude. Na verdade, espiritualidade é um jeito de se posicionar diante do mundo, da vida e das coisas. É ver tudo a partir de Deus; é agir conforme a sua vontade; é fazer-se trabalhador do Senhor.

Mas outra experiência pode ser concreta para muitas pessoas: a supervalorização da prática, do serviço. Assim se esquece de qualquer ligação transcendental e perde-se o devido valor da oração, da interiorização, dos “momentos de parada”. O importante aqui é trabalhar, servir, ajudar. A celebração, a meditação e a oração são secundárias.

Vemos assim duas situações bem diferentes:

1. Espiritualidade desencarnada, fora da realidade: “olhos no céu”.

2. Serviço, trabalho e prática: “pés no chão”

O desafio é unir estas duas realidades. É compreender a espiritualidade como “ter os olhos bem fixos no céu e os pés bem fixos no chão”. Assim, espiritualidade não é “subir” e nem “ficar aí”, mas é assumir a realidade toda – do jeito que é – a partir de Deus.

Mas é importante considerar também que tudo isso é fruto de uma caminhada. Espiritualidade não é algo que já se conseguiu, que já é concreto, definitivo. Espiritualidade é caminhada em direção ao Amor. Ainda não chegamos lá, por isso caminhamos. Justamente por isso não se pode entender a espiritualidade como algo já possuído, mas como uma caminhada em direção à plenitude da vida, que é Deus. Não há lugar assim, na vida da pessoa espiritual, para o comodismo. O dinamismo é, para ela, uma realidade concreta.

Fomos criados por amor, no amor e para amar. Viver a vida em Deus, portanto, é experimentar a essência, o mais importante da vida. É isto que vamos assumindo aos poucos.

Mais ainda, a espiritualidade é aquilo que dá consistência às nossas atitudes, práticas, realidades. Posso conhecer muito sobre Deus, mas se não o experimento, tudo na vida se torna vazio. Posso fazer muitas coisas, mas se Deus não tem lugar nelas, então tudo se torna absurdo, vago. Sendo assim, a espiritualidade é o que dá sentido, sabor, dinamismo à vida.

Podemos dizer que a espiritualidade nos mostra Deus como Luz. O pecado é vida na escuridão. A escuridão existe apena como ausência, mas não existe em si mesma. A vida em Deus me faz ver novamente, faz as coisas se evidenciarem. A Espiritualidade me encaminha à Água Viva e me oferece comida, o Pão da Vida.

É importante dizer ainda que tudo aquilo que rezo, contemplo, experimento, preciso concretizar na vida. Por outro lado, tudo o que vivo se encaminha para Deus.

A espiritualidade tem a ver com o propósito, com a intenção e com as motivações. Em síntese, ela é a “razão para” da nossa vida.



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